Neuropsicologia Clínica

                            

Uma interlocução da Psicologia com a Neurociência, a Neuropsicologia é a área que dá conta das funções cognitivas, como atenção, memória, funções executivas. É o segmento que se interessa em como se dá esses processos e sobretudo em como analisar com respaldo científico e viabilizar propostas de tratamento em casos de deficiências em qualquer uma dessas funções. 

E quando se pode pensar que este é um tipo de trabalho distante do conceito da subjetividade que o psicólogo clínico trabalha em terapia, engana-se ao dissociar uma coisa da outra. Pois embora sejam sim áreas distintas, elas acabam se encontrando quando percepções podem ser alteradas por um déficit em certa função, compromentendo assim a experiência do sujeito frente às situações da vida. Portanto, ambas as áreas podem se encontrar, mesmo cada uma tendo um objetivo de trabalho diferente do outro. Podemos ilustrar esta ideia quando imaginamos uma criança que sofre de TDAH, com certo déficit de atenção que comprometa seu rendimento escolar uma vez que pela dificuldade de se manter concentrado, pouco retém dos conteúdos dados em aula. Este aluno poderá ser rotulado de diversas maneiras equivocadas, pode crescer com baixa autoestima se sentindo pouco inteligente, abaixo da média, cobrado pela família e sentindo que não dá conta. Poderá crescer e levar o déficit de atenção e hiperatividade para situações da vida adulta, como começar coisas sem conseguir terminar, tendo esquecimentos que podem comprometer suas relações, inclusive profissionais, sendo mais uma vez enxergado de maneira errada, como alguém desleixado, alguém enrolado, e pouco comprometido. Mais uma vez este indivíduo poderá encontrar frustrações e baixar sua autoestima se depreciando com base nesses comportamentos, se culpabilizando e gerando sofrimento emocional e psíquico. Entretanto, se esta criança conseguir ser avaliada por um neuropsicólogo, ela poderá ter uma trajetória de vida que contemple suas questões, que considere seus pontos que merecem maior atenção e irão poder progredir na vida. Irão trilhar seu caminho de tratamento de acordo com o que for proposto por equipe multidisciplinar, muitas vezes envolvendo o psicólogo, um neurologista e outros profissionais como psicopedagogo e fonoaudiólogo, por exemplo, em casos como dislexia e outros transtornos de aprendizagem.

A Neuropsicologia atua em dois campos: Avaliação e Reabilitação. 
A avaliação neuropsicológica é um serviço específico, com um número limitado de sessões, que devem ocorrer em média de 8 a 10 encontros. Nestes irão ocorrer a investigação por anamnese, uma espécie de entrevista com a família quando se trata de criança ou de idoso e também com o próprio paciente, a fim de investigar as queixas. A maior parte da avaliação neuropsicológica se baseia em aplicação de testes que somente o profissional de psicologia está habilitado a aplicar. São testes com chancela da comunidade científica, altamente elaborados para estudar determinadas funções cognitivas. A aplicação desses testes envolve muita prática, atenção e cuidado por parte do profissional, para que justamente seus resultados possam ser bem precisos. Ao fim, é gerado um documento de muita responsabilidade. É o laudo que se resulta desse trabalho meticuloso que irá apontar para a hipótese diagnóstica e indicar a orientação de tratamento. É um trabalho extremamente rigoroso, de alta complexidade, baseado em evidências científicas, em estudos que levam anos e ferramentas criadas para apresentar resultados extremamente confiáveis e com todo o rigor que ciência exige. 
É muito importante repetir que SOMENTE O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA ESTÁ HABILITADO PARA MINISTRAR ESTES TESTES, BEM COMO SOMENTE O PSICÓLOGO ESTÁ AUTORIZADO A REALIZAR A AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA. NENHUM OUTRO PROFISSIONAL, DE QUALQUER OUTRA ÁREA PODERÁ ESTAR APLICANDO ESTES INSTRUMENTOS NEM TÃO POUCO LAUDANDO ALGUM PACIENTE QUE BUSQUE AVALIAR SUAS FUNÇÕES COGNITIVAS. A AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA É FUNÇÃO RESTRITA SOMENTE AO PSICÓLOGO REALIZAR.

A outra vertente da Neuropsicologia é a Reabilitação. Pois se de um lado temos o trabalho que investiga e encontra o problema, é preciso ter também o trabalho que busque colaborar com a resolução desse problema.
A reabilitação neuropsicológica não costuma ser o único caminho de tratamento. Muitas vezes é combinado o tratamento com acompanhamento médico, envolvendo prescrição de medicações, terapia cognitivo comportamental, e outros áreas de conhecimento e suas linhas de trabalho. O tratamento proposto é sempre algo muito específico de cada caso, de cada paciente e seu laudo. 
A reabilitação visa trabalhar os circuitos neurais e se utiliza da função neuroplástica do cérebro para poder obter melhores resultados em seus exercícios, sempre visando uma melhora, ou um retardo da perda de certas funções, já avaliadas anteriormente. É uma forma de tratamento concomitante a outros, que poderá estar viabilizando uma melhora do quadro clínico do paciente. Trabalha-se com exercícios cognitivos que atingem certos circuitos neurais buscando a modulação neural das funções acometidas.